terça-feira, 9 de abril de 2013

Entendendo a mente


Extraído de Transforme sua vida por Venerável Geshe Kelsang Gyatso


Alguns pensam que a mente é o cérebro ou qualquer outra parte ou função do corpo, mas não é verdade. O cérebro é um objeto físico que pode ser visto, fotografado ou submetido a uma cirurgia.

A mente, por outro lado, não é algo material. Ela não pode ser vista com os olhos nem fotografada ou operada. Portanto, o cérebro não é a mente, mas apenas uma parte do corpo.

Não há nada dentro do corpo que possa ser identificado como sendo nossa mente, porque nosso corpo e mente são entidades diferentes. Por exemplo, às vezes nosso corpo está descontraído e imóvel, e a mente em plena atividade, movendo-se rapidamente de um objeto para outro. Isso indica que nosso corpo e mente não são a mesma entidade.

Nas escrituras budistas, nosso corpo é comparado a uma hospedaria, e a mente, ao hóspede que ali reside. Quando morremos, a mente deixa o corpo e vai para uma próxima vida, como um hóspede que sai de uma hospedaria e vai para outro lugar.

Se a mente não é o cérebro nem outra parte qualquer do corpo, o que ela é? A mente é um continuum sem forma, que tem como função perceber e entender os objetos. Sendo, por natureza, algo sem forma, ou não corpóreo, ela não pode ser obstruída por objetos físicos.

É muito importante conseguir distinguir estados mentais agitados de estados mentais pacíficos. Como explicado no capítulo anterior, os estados mentais que perturbam nossa paz interior, como raiva, inveja e apego desejoso, são denominados ‘delusões’ e são as principais causas de todo o nosso sofrimento.

Talvez pensemos que nosso sofrimento seja provocado por outras pessoas, pela falta de condições materiais ou pela sociedade, mas, na realidade, ele vem dos nossos próprios estados mentais deludidos. A essência da prática espiritual consiste em reduzir e, por fim, erradicar totalmente nossas delusões, substituindo-as por paz interior permanente. Esse é o verdadeiro significado da nossa vida humana.

O ponto essencial que aprendemos ao entender a mente é que a libertação do sofrimento não pode ser encontrada fora da mente. A libertação permanente só pode ser alcançada por meio da purificação da mente. Sendo assim, se quisermos nos livrar dos problemas e alcançar paz duradoura e felicidade, precisamos aumentar nosso conhecimento e compreensão da mente.

Para uma compreensão mais profunda sobre a natureza e as funções da mente, consulte o livro, Entender a mente

Carma


Extraído de Transforme sua vida por Venerável Geshe Kelsang Gyatso.

A lei do carma é um exemplo especial da lei de causa e efeito, segundo a qual todas as nossas ações de corpo, fala e mente são causas, e todas as nossas experiências são os seus efeitos.

A lei do carma explica por que cada indivíduo tem um temperamento único, uma aparência física única e experiências únicas. Esses são os diversos efeitos das incontáveis ações que cada um realizou no passado. Não encontramos duas pessoas que tenham criado exatamente a mesma história de ações ao longo de suas vidas passadas e, portanto, nunca encontraremos duas pessoas com estados mentais idênticos, experiências idênticas e aparência física idêntica.

Cada pessoa tem um carma individual específico. Algumas pessoas desfrutam de boa saúde, ao passo que outras estão constantemente doentes. Algumas são muito bonitas, outras, muito feias. Algumas têm bom temperamento e se contentam facilmente, outras são rabugentas e raramente gostam de algo. Há pessoas que compreendem com facilidade os ensinamentos espirituais, enquanto outras os consideram difíceis e obscuros.

Carma significa ação e se refere às nossas ações de corpo, fala e mente. Toda ação deixa uma marca, ou potencialidade, em nossa mente muito sutil e cada uma dessas marcas dá origem a seu próprio efeito.

Nossa mente é como um campo e realizar ações é como plantar sementes nele. Ações virtuosas semeiam felicidade futura e ações não-virtuosas semeiam sofrimento futuro. As sementes que plantamos no passado permanecem em estado dormente até que as condições necessárias para que elas germinem se reúnam. Em alguns casos, isso pode acontecer muitas vidas depois da ação original ter sido cometida.

Foi por causa do nosso carma, ou ações, que nascemos neste mundo impuro e contaminado e experienciamos tantas dificuldades e problemas. Nossas ações são impuras, porque nossa mente está contaminada pelo veneno interior do auto-agarramento. Essa é a razão fundamental porque experienciamos sofrimentos.

O sofrimento é criado por nossas próprias ações, ou carma; não nos é dado como punição. Sofremos porque, em nossas vidas anteriores, cometemos muitas ações não-virtuosas. A fonte de todas essas ações negativas são as nossas próprias delusões, como raiva, apego e a ignorância do auto-agarramento.

Uma vez que tenhamos purificado nossa mente do auto-agarramento e de todas as outras delusões, nossas ações serão naturalmente puras. Como resultado, todas as nossas experiências também serão puras. Viveremos num mundo puro, onde nosso corpo, prazeres e amigos serão puros. Não haverá o menor traço de sofrimento, impureza ou problemas. É assim que podemos encontrar verdadeira felicidade em nossa mente.

Para saber mais sobre carma, consulte o livro Caminho alegre da boa fortuna.
Renúncia


Extraído de Transforme sua vida por Venerável Geshe Kelsang Gyatso.

Renúncia não é o desejo de abandonar nossa família, amigos, casa ou trabalho e nos tornar um mendigo; é uma mente que serve para acabar com o apego por prazeres mundanos e que busca a libertação do renascimento contaminado.

Precisamos aprender como acabar com nosso apego por meio da prática de renúncia ou ele se tornará um sério obstáculo a uma prática espiritual pura. Assim como um pássaro não pode voar se tiver pedras amarradas nas patas, também não podemos fazer progressos no caminho espiritual se estivermos firmemente amarrados pelas correntes do apego.

O momento de praticar renúncia é agora, antes da nossa morte. Precisamos reduzir nosso apego pelos prazeres mundanos, compreendendo que são enganosos e que não podem nos oferecer satisfação verdadeira. Na realidade, eles só nos fazem sofrer.

Esta vida humana com todos os seus sofrimentos e problemas é uma grande oportunidade para aperfeiçoarmos nossa renúncia e compaixão. Não devemos desperdiçar esta preciosa oportunidade.

A realização de renúncia é o portal pelo qual ingressaremos no caminho espiritual à libertação, ou nirvana. Sem renúncia, não conseguiremos sequer ingressar no caminho à felicidade suprema do nirvana, que dirá avançar nele.
Para gerar e aumentar nossa renúncia, devemos contemplar repetidamente o seguinte:

Porque minha consciência não tem um começo, já experienciei incontáveis renascimentos no samsara e tive incontáveis corpos. Se todos eles fossem reunidos, ocupariam o mundo inteiro, e o sangue e demais fluídos que corriam dentro deles formariam um oceano. Tão grandes foram meus sofrimentos em todas essas vidas anteriores, que derramei lágrimas de dor suficientes para formar um outro oceano.

A cada vida, passei pelos tormentos de adoecer, envelhecer, morrer, ser separado de pessoas queridas e não poder satisfazer meus desejos. Se eu não atingir a libertação permanente do sofrimento agora, terei de passar por tudo isso repetidamente em minhas incontáveis vidas futuras.

Contemplando assim, do fundo do nosso coração, geramos a firme determinação de abandonar o apego pelos prazeres mundanos e conquistar libertação permanente dos renascimentos contaminados. Se colocarmos essa determinação em prática, poderemos controlar nosso apego e, desse modo, solucionar muitos dos nossos problemas diários.

Para mais informações sobre renúncia, consulte os livros Novo manual de meditação e Caminho alegre da boa fortuna.

Compaixão


Extraído de Transforme sua vida de Venerável Geshe Kelsang Gyatso.

Compaixão é a verdadeira essência de uma vida espiritual e a prática central daqueles que devotaram suas vidas para alcançar a iluminação. É a raiz das Três Jóias Supremas – Buda, Darma e Sanga.

É a raiz de Buda, porque todos os Budas nascem da compaixão. É a raiz do Darma, porque os Budas dão ensinamentos motivados unicamente por compaixão. É a raiz da Sanga, porque é ouvindo e praticando os ensinamentos de Darma, os quais são dados por compaixão, que nos tornaremos membros da Sanga, ou Seres Superiores.

O que é exatamente compaixão? Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento.

Às vezes, desejamos que alguém se livre do sofrimento por razões egoístas; isso é bastante comum nas relações que se fundamentam principalmente no apego. Se nosso amigo estiver doente ou deprimido, poderemos desejar que se recupere depressa para desfrutarmos novamente da sua companhia; mas esse desejo é basicamente autocentrado, não é verdadeira compaixão. A verdadeira compaixão baseia-se, necessariamente, na motivação de apreciar os outros.

Embora já tenhamos algum grau de compaixão, no momento, ela é bastante parcial e limitada. Quando nossos familiares e amigos estão sofrendo, facilmente geramos compaixão por eles, mas é bem mais difícil sentirmos solidariedade por estranhos ou por pessoas que achamos desagradáveis.

Além do mais, sentimos compaixão por aqueles que estão sofrendo dor manifesta, mas não por aqueles que estão desfrutando de boas condições e menos ainda pelos indivíduos que estão cometendo ações nocivas.

Se realmente quisermos realizar nosso potencial alcançando a plena iluminação, temos que aumentar o escopo da nossa compaixão até que ela consiga abranger todos os seres vivos sem exceção, como faria uma mãe amorosa que sente compaixão por todos os seus filhos, independente de estarem agindo bem ou mal.

Essa compaixão universal é o coração do budismo mahayana. Ao contrário da nossa compaixão atual, limitada, que já surge ocasionalmente de modo natural, a compaixão universal precisa ser cultivada por meio de treino durante um longo período.

Para saber mais sobre compaixão, consulte os livros Oito passos para a felicidade, Compaixão universal, and Contemplações significativas.

Nenhum comentário: